10 comidas de Natal que tem de comer em Portugal
Quando esta época maravilhosa do ano chega, em Portugal pensamos em feriados e em alguns dias longe do trabalho. Gostamos de passar tempo de qualidade com as pessoas que nos são queridas, mostrarmos o nosso carinho com troca de presentes e, em geral, fazermos balanços e alimentarmos o sentimento profundo de gratidão pelas coisas boas da vida, que nem sempre estão presentes nos dias de azáfama no resto do ano.
Faça parte de uma família tradicional que vai à Missa do Galo, ou de um grupo mais contemporâneo de pessoas em que a família e os amigos se misturam nesta data especial, pode ter certeza de que a comida será uma constante em qualquer festa, ainda mais então no Natal, um dos feriados mais ansiados e celebrados em todo o país.
Então, o que comem os portugueses durante o Natal? Esta é uma daquelas ocasiões em que na verdade mantemos bastante simples no que diz respeito aos pratos principais. Mas quando chega a hora da sobremesa, espere um banquete! A variedade de doces de Natal em Portugal é realmente algo de deixar qualquer um de olhos arregalados. Os seus olhos vão brilhar de emoção e desejo, mas reserve tempo para usufruir da experiência na sua totalidade!
A cultura gastronómica portuguesa não se resume a comer: também se trata de cozinhar lentamente, passar o tempo à volta do fogão primeiro e da mesa a seguir, socializar enquanto toma um pouco de vinho, enquanto se senta ou mesmo antes das refeições, diretamente na cozinha. Significa isto que as refeições podem levar várias horas repletas de comida, bebida e risos.
Em Portugal, não é invulgar terminar uma refeição, relaxar ao redor da mesa discutindo assuntos atuais e passados, até voltar o apetite. É por isso que mesas bem recheadas, quando se juntam mais pessoas do que nas reuniões familiares regulares ao longo do ano, são bastante convenientes. Tanta conversa para pôr em dia e coisas para fazer… e comer … tantas gulodices para experimentar no mesmo dia!
Se está a passar o Natal em Portugal, estes são as 10 comidas que tem de provar:
1. Bacalhau com Todos
Ao jantar da véspera de Natal chamamos Consoada. O prato rei de um dos jantares mais importantes do ano em Portugal não poderia ser outro senão o nosso muito querido bacalhau. No Natal é costume desfrutar de um prato bastante simples de uma boa posta de bacalhau cozida com todos – como dizemos: batatas, cenouras, verduras e ovos cozidos, regados com uma quantidade bem generosa de azeite.
A tradição de comer bacalhau na Consoada tem a ver com o fato de que, no catolicismo, um dia antes do Natal era um momento em que os crentes deveriam se abster de comer carne. Num país onde o vegetarianismo não era realmente uma prática, não comer carne era sinónimo de preparar pratos à base de peixe. Antes dos dias de refrigeração em nossas casas e de transporte rápido, o bacalhau curado significava um acesso mais fácil a peixe para todos no país, em particular para aqueles que moravam no interior e nas regiões montanhosas distantes da costa.
O que inicialmente começou como algo feito por necessidade, transformou-se em tradição. Hoje em dia, é raro encontrar um português, em Portugal ou no exterior, que não adore bacalhau. É um alimento altamente ligado à identidade portuguesa e, como tal, faz todo o sentido que uma das principais festas do ano inclua o peixe que aqui em Portugal chamamos de “o fiel amigo”.
Se a experiência de jantar de Natal à portuguesa terminasse aqui, quase se poderia pensar que fomos roubados da extravagância que esta celebração normalmente envolve. Mas, considerando o restante das coisas que acabam por serem postas na mesa, pode estar seguro de que esse não vai ser o caso em Portugal!
2. Polvo
Enquanto que o bacalhau estará presente nas mesas de Natal em todo o país, outros pratos – ainda salgados — podem variar de acordo com a região. Nas regiões do norte do Minho, Douro e Trás-os-Montes, é muito comum incluir polvo. Os tentáculos serão cozidos até ficarem tenros e servidos com o prato principal de bacalhau e legumes. Sempre encharcado de azeite, que com frequência é previamente aquecido com dentes de alho para acentuar o sabor.
3. Roupa Velha
Este não é um prato que as famílias portuguesas desfrutariam no jantar de Consoada, mas sim ao almoço do dia de Natal. Os defensores acérrimos da sustentabilidade e desperdício zero adorarão saber que, entre outros mimos, o almoço de Natal português inclui na sua preparação “roupas velhas”. Consiste basicamente em reaproveitar e saltear as sobras do jantar na noite anterior: bacalhau desfiado e pedaços de batatas, verduras e outros vegetais que são fritos com azeite e alho. Não só não deixamos nada por desperdiçar, como também acabamos com um prato delicioso e reconfortante!
Além da Roupa Velha, carnes assadas como peru, cordeiro e cabrito também são comuns como prato principal do almoço de Natal.
4. Bolo Rei e Bolo Rainha
Sabemos que o Natal está a chegar quando as pastelarias, confeitarias e padarias começam a empilhar o colorido Bolo Rei nos seus balcões. O Bolo Rei pode ser considerado o rei e o mais português de todos os nossos doces de Natal, mas na verdade é inspirado originalmente no Gâteau des Rois francês.
Em 1829, a confeitaria mais antiga e ainda em funcionamento em Lisboa, que visitamos durante o nosso Passeio Raízes de Lisboa, Gastronomia & Cultura, introduziu esta doçaria em Portugal. Bolo Rei, cujo nome se refere aos Três Reis Magos, é tradicionalmente comido em Portugal entre o Natal e a Epifania, em 6 de janeiro, que é em Portugal chamado Dia de Reis.
Este bolo em forma de coroa é feito deuma massa semelhante ao brioche, enriquecida com muitas frutas secas e coberta com cortes de frutas cristalizadas atraentes. Como nem todos gostam desses frutos ultra doces e pegajosos, o Bolo Rainha também é comercializado. O Bolo Rainha consiste na mesma receita, sem a fruta cristalizada. As erações mais jovens tendem a preferir Bolo Rainha.
Tradicionalmente, o Bolo Rei incluía uma fava e quem quer que acabasse com a fava na fatia de bolo deveria comprar o bolo do ano seguinte para a família. Naquela época, também era incluído no bolo um presente, originalmente uma moeda de ouro e com o tempo pequenos brinquedos de metal, de Jesus ou com outros motivos religiosos. Contrastando com o castigo daqueles que receberiam a fava, encontrar a moeda ou a medalha era o presente. Com alguma pena, mas por motivos de segurança, esta tradição foi descontinuada. Prémio ou não, uma coisa é certa: o Bolo Rei é o doce mais icónico da mesa de Natal portuguesa. Comido fresco no Natal ou, alguns dias depois, fatiado, torrado e barrado com muita manteiga, o Bolo Rei é um bolo que quase todos comem país fora, pelo menos uma vez no Natal. Se nada mais, por uma questão de tradição!
5. Rabanadas
Reduzir os doces tradicionais de Natal portugueses a apenas alguns preparativos será sempre injusto, pois a variedade de doces que comemos durante estas festividades é incrível! A maioria das sobremesas de Natal portuguesas consiste nalguma variação de massa frita, adoçada com açúcar e canela ou caldas caseiras.
As Rabanadas são a versão portuguesa da French toast e também são conhecidas como Fatias Douradas. Durante Dezembro e início de Janeiro, as padarias vendem cacete, um tipo específico de pão usado para fazer essa preparação e difícil de encontrar durante o resto do ano. Este pão mais seco é ideal para absorver uma doce mistura de leite e ovos, que depois de fritos, transformarão uma fatia de pão humilde num dos doces favoritos de Natal em Portugal.
As rabanadas são boas para a sobremesa, pequeno almoço ou a qualquer hora do dia, na verdade. Ao contrário da torrada francesa, as rabanadas são preparadas com antecedência e consumidas à temperatura ambiente sempre que sentir vontade de algo doce.
As variações de rabanadas incluem Rabanadas com Doce de Ovo, Rabanadas com uma boa e espessa camada de doce de ovo e Rabanadas com Vinho do Porto, onde a mistura leitosa tradicional usada para embeber o pão é substituída por água e Vinho do Porto – é impossível ser mais português do que isto!
6. Sonhos
Na extensa lista de doces de Natal portugueses, os sonhos são um sonho tornado realidade. Literalmente! Se nunca provou, imagine um donut, o mais fofo que pode imaginar. Estes bolinhos ultra arejados existem em sabores diferentes. Enquanto alguns confeiteiros hoje em dia brincam com gostos e cores diferentes, os sonhos tradicionais tendem a aparecer em duas variedades principais. Os clássicos são os simples, fritos até ficarem levemente crocantes por fora, mas incrivelmente macios por dentro, povilhados com açúcar e canela.
A principal variedade desta receita são os Sonhos de Abóbora, com abóbora. Graças à adição da abóbora à massa, esses bolinhos são mais densos que os clássicos e adquirem uma textura caramelizada ao fritar. Todos os sonhos, simples, de abóbora ou outros, também podem ser servidos com calda de açúcar ou mel, o que os torna extra saborosos e com uma textura irresistível.
7. Filhós
Parecidos com os sonhos, filhós ou filhoses consistem num tipo de rosquinha, ou seja, massa doce frita polvilhada com açúcar e canela. Nesse caso, fazem-se esticando a massa levedada, que é cortada em porções maiores e mais planas do que as usadas para os sonhos redondos. Estas delícias douradas são comuns em muitos países do mundo por onde os portugueses passaram e tiveram impacto histórico.
Na América do Norte, em particular no Havaí, filhós é chamada de malassada, graças à influência de imigrantes oriundos das ilhas da Madeira e Açores. Tal como nos sonhos, esta fritura de Natal pode ter sabores diferentes, sendo a abóbora o mais comum de todos.
8. Aletria
A aletria fala em voz alta sobre a influência que os mouros do norte da África tiveram em Portugal. Este pudim de leite cujo nome se aportuguesou a partir de iṭriyah, a palavra árabe para esparguete fino de cabelo de anjo, geralmente é preparado em grandes quantidades e, portanto, é perfeito para grandes reuniões familiares.
A aletria pode ser comida morna ou à temperatura ambiente. Dependendo da receita ou da parte do país, pode ser cremosa e de alguma forma líquida, comida à colher ou espessa o suficiente para ser cortada em porções. Leitosa, amanteigada, com um toque suave de limão, a aletria é tradicionalmente servida em bandejas grandes, decoradas com padrões desenhados com canela em pó.
9. Azevias
Este doce inclui um dos recheios mais surpreendentes dos doces de Natal portugueses. Dentro da massa frita crocante esconde-se um recheio grosso feito com purê de grão de bico e amêndoas moídas. Esta combinação não é muito doce e é altamente satisfatória! Variações de azevias podem incluir recheios alternativos de abóbora ou de batata-doce, mas, seguindo as antigas tradições de Natal dos gulosos sempre presentes de Portugal, todas terminam com uma generosa cobertura de açúcar e canela.
10. Lampreia de Natal
Porque não estaria em Portugal se não incluíssemos uma sobremesa à base de gema de ovo na mesa. Eis a Lampreia de Natal. Também conhecida como Lampreia de Ovos. Felizmente, nenhuma proteína animal está envolvida neste preparativo carregado de açúcar e gema de ovo, moldada de forma semelhante a uma cobra que parece com a lampreia, peixe do rio sugador de sangue que, por si só também é uma iguaria em Portugal. Para fazer lampreia de ovos, além de açúcar e ovos, as amêndoas são usadas para dar forma ao monstro mais doce que irá encontrará na típica mesa de Natal portuguesa.
Tendo em linha de conta que estes são alguns das iguarias mais essenciais com que vai poder deliciar-se durante o Natal em Lisboa e em Portugal, aconselhamos que peça ao Pai Natal umas calças novas largueironas! Aproveite e boas festas!
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