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Como identificar a autêntica tasca portuguesa

a person standing in front of a store

 

Em Portugal, existem dois tipos de estabelecimentos que são mais do que lugares para comer. São lugares para encontrarmos os amigos e vizinhos, para socializar, para falar da vida dos outros, para analisar o jogo de futebol da noite anterior e, sim, à boa moda portuguesa, para reclamar do clima e do estado da política do país. Uma é a pastelaria, e a outra é a poderosa tasca.

O que começou por ser um lugar onde os trabalhadores podiam aquecer sua própria comida, em troca da compra de vinho e café (eles estavam ansiosos em adotar as máquinas italianas de café expresso no início do século 20), tornou-se um templo de comida acessível e bem feita, com um ambiente acolhedor para combinar com os seus saborosos pratos.

Recentemente, o fascínio da tasca trouxe muitos oportunistas à cena, interessados ​​em capitalizar o charme singular desta instituição histórica. Mas nada receie! Com a nossa ajuda, vai rapidamente distinguir a real da falsa e ferrar os dentes num bastião genuíno da cultura gastronómica lisboeta e portuguesa.

 

1 – Nada custa mais que 10 Euros

Se existe uma característica definidora da tasca é que ela é acessível. Afinal de contas, há mais de um século que serve gente da classe trabalhadora, que não se pode dar ao luxo de comer regularmente em restaurantes. Por isso, mesmo que a comida seja boa e caseira, se os preços não refletirem, passe à frente.

 

2 – As porções são generosas

Quando pede numa tasca, não espera que venha um prato extravagante ou extremamente elaborado. Aguarde antes por uma dose copiosa de comida, servida num prato ou numa travessa metálica ou até numa panela (como no caso dos pratos de arroz malandrinho). Se quiser mais arroz ou batatas, o empregado cumprirá o seu desejo sem custo extra. Afinal, se não sair de uma tasca com a barriga cheia, não é uma verdadeira tasca.

 

3 – Os empregados são … carismáticos!

Falando de empregados: na tasca há geralmente dois tipos de empregados, que são muitas vezes os próprios donos. O primeiro é o afável: sempre pronto para se meter consigo com uma piada (geralmente um tanto inadequada), encorajando-o a comer e a beber mais, tentando-o com uma sobremesa ou com um licor caseiro. Pontos extra se ostentar um bigode e /ou uma bela barriga.

O segundo tipo de empregado é o rabugento: geralmente conduz o coro de reclamações sobre o clima, o trânsito, os políticos que caracteriza as interações na tasca. Tudo é uma obrigação para ele. Ele não se importa consigo e, no entanto, vai sentir nascer em si um impulso irresistível para conquistá-lo. Porque se conseguir arrancar um sorriso dele, você é um profissional no jogo da tasca.

 

4 – Há sempre personagens pitorescas ao redor

Os empregados não são as únicas personagens que encontrará na tasca. É um lugar de socialização, especialmente para os homens, por isso é rico em personalidades locais. Os operários de construção que deitam abaixam minis (pequenas garrafas de 200ml de cerveja) às 9 da manhã. Os polícias de serviço a tomarem o seu café. Os aficionados do futebol, em discussões acesas sobre o árbitro do jogo do dia anterior.

Toda a boa tasca tem o seu próprio ecossistema, e quanto mais vezes lá for, mais vai conseguir conhecê-lo. Até talvez, um dia, se torne parte dele também.

 

5 – Há sempre toalhas de papel

A toalha de papel é um símbolo do triunfo do senso comum sobre a beleza. A toalha de papel é o marcador mais visível duma tasca e é absolutamente essencial. Muitas vezes a decoração é acompanhada por um balcão de aço inoxidável esteticamente desafiador, uma televisão colocada proeminentemente num canto e outros objetos soltos de origem duvidosa. A humilde toalha de papel também pode servir outro propósito nobre: ​​anunciar os pratos do dia, sempre manuscritos, junto à porta da entrada.

 

6 – Há recordações de futebol nas paredes

Futebol e tascas partilham um relacionamento simbiótico. Os jogos de futebol trazem clientes e as tascas honram o futebol exibindo as recordações de um ou mais equipas de futebol. Se o dono da tasca for um defensor particularmente fervoroso de uma equipa, exibirá apenas as lembranças de sua equipa. No entanto, se ele for experiente no negócio, todas as principais equipas portuguesas terão um lugar nas suas paredes, juntamente com (é óbvio) a selecção nacional.

 

7 – Há petiscos, não tapas

Se vir a palavra tapas escrita em qualquer lugar, fuja. Em Portugal, as maravilhas de petiscos que vão tão bem com um copo de tinto ou com uma mini gelada são chamados de petiscos. E quanto mais desafiador o petisco, mais autêntica é a tasca. Se encontrar salada de orelha de porco ou salada de ovas, está no sítio certo e é o vencedor do rally das tascas.

 

8 – Há Cozido à Portuguesa pelo menos uma vez por semana

Falando de pratos desafiadores, o Cozido à Portuguesa, o inimigo de qualquer vegetariano, é basicamente uma maravilha de uma panela, onde uma grande quantidade de legumes (batata, repolho, cenoura, nabo, feijão, etc) são cozidos com uma variedade ainda mais impressionante cortes de carne (que podem ir do frango ao pé de porco) e um conjunto de enchidos tradicionais (como o chouriço, a farinheira ou a morcela). É acompanhado com arroz (porque não abdicamos de muitos hidratos de carbono) e é uma verdadeira bomba, que vai deixá-lo pronto para uma sesta a seguir. A verdadeira tasca serve este autêntico prato nacional pelo menos uma vez por semana, geralmente num dia específico da semana.

Por alguma razão, as quartas-feiras parecem ser um dia em que muitas tascas concordaram.

 

9 – Sempre tem Doce da Casa

Quando se trata de sobremesas, a consistência é o campeonato no mundo das tascas. Vai encontrar sempre algumas sobremesas padrão. Mousse de Chocolate (que deve ser caseira), Molotov (uma fatia gigantesca de claras de ovo fofas, cozidas em banho maria numa forma com uma forte camada de caramelo), Pudim de Ovos (honrando os doces à base de muito ovo) e o onipresente Doce da Casa. Se pensaria que cada tasca teria um Doce da Casa em particular, dado o seu nome, está enganado. Na verdade, é apenas uma combinação de pudim de baunilha de pacote, coberto com bolacha ensopada em café e coberto com chantilly. Não é o favorito de ninguém, mas deve estar sempre presente na oferta das sobremesas.

 

10 – O molho piri-piri é caseiro

Não há sutileza numa tasca, e o molho picante de piri-piri deve combinar: forte, caseiro e sem floreados. E se não o põe a suar, então não é bom. Além disso, pode pô-lo em tudo, seja no arroz de marisco, na bifana ou até mesmo uma sopa de caldo verde. Piri-piri é para todos e tudo mais.

As verdadeiras tascas podem ser assustadoras para os não iniciados. Há pratos com os quais não está familiarizado. Há barulho, algum caos, talvez alguns olhares dos frequentadores. Mas seja corajoso e entre. Descobrirá que as tascas portuguesas são realmente diamantes em bruto a ser explorado. E com estas nossas dicas, vai conseguir distinguir a real da falsa. Poderá até tornar-se num conhecedor das tascas e um guardião de segredos dos mais português de todos os estabelecimentos portugueses. Viva a tasca!

 

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