Karolyn: De Teerão para a Mouraria
Viveu em 3 continentes, outras tantas cidades, mas bastaram três dias em Lisboa para se apaixonar pela cidade. Natural do Irão, Karolyn ficou encantada com a luz e a calma lisboetas, trocou o Chiado pela Mouraria e já não dispensa um carioca de café pingado pela manhã. “Se não beber sinto que falta algo no meu dia”.
Karolyn tinha 12 anos quando teve a certeza que queria sair do Irão rumo aos Estados Unidos, onde tinha familiares. Durante quatro anos esperou pela chegada do passaporte que lhe permitisse sair de um país destruído pela revolução e pela guerra. “Nasci no Irão e fui morar para os EUA com 17 anos. A minha adolescência não foi muito comum porque passei todos estes anos num país em revolução, com as portas fechadas ao mundo.” Obrigada a andar de véu dos 7 aos 17 anos, Karolyn só conseguiu libertar-se nos Estados Unidos, mas o medo persistiu: “Durante anos tive más memórias. Também não conseguia usar saias porque no Irão só podíamos vestir calças.”
Nos EUA fez um curso de artes plásticas em Chicago e uma viagem a França, Espanha e Portugal, que fez com alguns amigos, perdeu-se de amores por Lisboa. Quisemos saber o que gosta mais. “A luz e a calma! Pensei que ninguém podia estar deprimido com esta luz e esta cidade linda!”
Ainda viveu alguns anos em Berlim, onde tinham uma galeria de arte, até que o nascimento do filho fez com que quisesse mudar definitivamente para Lisboa. Depois de morar algum tempo no Chiado descobriu a Mouraria, uma zona mais calma, onde mora há ano e meio.
O Eurico e o Trigueirinho são os seus restaurantes preferidos e o que mais gosta da gastronomia portuguesa é o peixe! “Gosto de sardinhas, douradas, peixe-espada. Só não gosto de bacalhau, que me desculpem os portugueses, mas não consigo gostar”. O pequeno-almoço é tomado na Leitaria Moderna e já não dispensa o carioca de café pingado! “Sinto que quando não tomo há algo que está a faltar no meu dia”.
E do que mais tem saudades da gastronomia do Irão? “Nada! Portugal mudou completamente os meus gostos”. E como era o pequeno-almoço no Irão? “Comia pão com queijo feta, doces, manteiga, fruta. Mas não temos pães como vocês, não usamos levedura. Temos um pão que se coloca no forno com pequenas pedras em cima. Sim, é isso, pão de pedra! Tem uma forma retangular, é enorme e muito fino. Quando sai do forno e as pedras caem, o pão fica com o desenho da pedra. Agora que estou a falar nisso afinal tenho saudades do pão de pedra!”