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Nuno Franco, o Mediador Comunitário da Mouraria

Nuno Franco in Mouraria, Lisbon

Vive há 35 anos na Mouraria, conhece o bairro como ninguém e dedica-se a ajudar quem mais precisa. Entre as visitas guiadas a turistas e moradores, quisemos ouvir a história de alguém que fala muito, mas que também aprendeu a ouvir.

Como surge a ligação à Mouraria?
O meu pai nasceu no bairro e quando casou foi viver para o Alto de S. João, com outro tipo de condições. Eu nasci em 1959 e quando fiz 20 anos fui morar com a minha avó na Mouraria. Tinha necessidade de ter a minha independência e depois de ela falecer continuei a morar no bairro até aos dias de hoje.

Como surgiu a ligação à Associação Renovar a Mouraria?
Estive sempre ligado ao movimento associativo. Fui membro da Amnistia Internacional, do SOS Racismo e passei pelo 25 de abril com 15 anos. Foi uma aura de liberdade que influenciou os jovens nessa altura. A Associação Renovar a Mouraria foi fundada porque havia no bairro uma deficiência de direitos humanos. Era um bairro esquecido, estigmatizado e isso irritava-me porque era um bairro bonito. A Inês Andrade, que atualmente ainda é a presidente da Associação, foi a chama inicial. Sentíamos que era preciso fazer alguma coisa, chamar a atenção das entidades para a situação em que o bairro estava. O movimento avançou em 2007 e primeiro estranhou-se. Só muito a custo e com muito trabalho é que se entranhou.

E as visitas guiadas à mouraria, como surgiram?
Já fazia essas visitas aos amigos. Perguntavam o que o meu bairro tinha de especial e eu mostrava. Depois dediquei-me às visitas porque uma das formas de quebrar o estigma é mostrar o bairro às pessoas. Digo sempre que não sou guia, que moro no bairro para as pessoas percebam que vão ser guiadas por uma pessoa que ama a mouraria. As pessoas do bairro gostam mesmo da Mouraria, nem tem muito cabimento ir viver para outro bairro. Já nos habituamos, temos as nossas zonas de conforto.

Quais são as suas zonas de conforto?
Gosto muito de ir aos Amigos da Severa tomar uma cerveja ao fim do dia e conviver com as pessoas. É um bom ponto de encontro porque faço trabalho de Mediador Comunitário, sou o interface entre os moradores e comerciantes, emigrantes e Junta de Freguesia, Santa Casa da Misericórdia e todas as instituições que fazem desenvolvimento local no bairro. E ali encontro pessoas, falo com elas e geralmente vêm ter comigo contar os problemas. Ando sempre com um caderno onde aponto tudo.

Portanto é um ouvinte?
Sim, falo muito, mas aprendi a ouvir. Tenho este defeito: falo muito e em especial da Mouraria falo com muito entusiasmo. Mas é muito importante ouvir e tive de aprender. Sinto que sou o poço onde as pessoas depositam os seus problemas. Mas além das tasquinhas e dos restaurantes do bairro onde gosto de ir – como o Trigueirinho ou o Eurico – gosto de beber o café de manhã no Sr. Simões, ao fundo da Rua do João do Outeiro, que tem umas portas amarelas. Também vou à Leitaria Moderna ou à Brilhante, as pessoas vão-me reconhecendo. Um dos trabalhos que faço como Mediador Comunitário é visitar as pessoas em casa. Se são idosos pergunto se têm alguma necessidade, se precisam de apoio domiciliário. Se forem jovens e vejo que estão em casa a meio da tarde pergunto se têm emprego, pois tenho folhetos do Mais Emprego. Até agora já levei 113 pessoas ao Mais Emprego.

O que é mais gratificante no seu trabalho?
Poder ajudar as pessoas. Para mim estar na Associação Renovar a Mouraria seria pouco. Gosto de me sentir útil e é muito bom ter soluções para a vida das pessoas.

Nuno and Os Amigos da Severa owner

Com o Sr. António nos Amigos da Severa

Nuno Franco in Mouraria

Na Associação Renovar a Mouraria

Nunco Franco's notebook

O caderno onde toma nota de todos os problemas das pessoas do bairro