Breve introdução ao vinho português (e às regiões vinícolas de Portugal)
Nos últimos anos, o vinho português tem crescido em popularidade por todo o mundo, ao mesmo tempo que cada vez mais viajantes com um grande interesse pela gastronomia e pelo vinho continuam a visitar o nosso país. Quando se pensa em vinho de Portugal para além das nossas fronteiras, é provável que a primeira referência que venha à mente seja o vinho do Porto. Este vinho fortificado da região do Douro tem sido de facto um grande embaixador dos vinhos de Portugal, mas é apenas a ponta do iceberg do mundo dos vinhos do nosso país.
As vinhas têm vindo a ser plantadas nesta região há mais de 4000 anos e, neste momento, Portugal é o 11º maior produtor de vinho do mundo. Considerando que o território português é bastante pequeno, trata-se de uma grande conquista. Não há dúvida de que o vinho faz parte integrante da nossa alimentação e até dos nossos hábitos de convívio, e é assim que conseguimos atingir um consumo médio de 72 garrafas de vinho por pessoa por ano!
Se sabe pouco sobre o vinho português, teremos o maior prazer em apresentar-lhe este magnífico mundo em qualquer um dos nossos passeios gastronómicos & culturais em Lisboa. Aqui, connosco, terá a oportunidade de apreciar alguns exemplos notáveis de vinhos produzidos no nosso país. Mas se está em casa e mesmo assim quer saber mais sobre o vinho português, para poder fazer uma prova mais atenta da próxima vez, recomendamos que continue a ler para perceber um pouco mais sobre as regiões vitivinícolas e castas portuguesas.
Castas portuguesas
Apesar de Portugal ocupar pouco mais de 90.000 km², a diversidade das vinhas é responsável por mais de 250 castas indígenas. Se tivermos em conta as castas importadas que agora também são amplamente cultivadas em Portugal, é fácil perceber que certamente não há falta de diversidade no que diz respeito aos perfis de sabor e características. Se compararmos isso com outros territórios ao redor do mundo, esse número torna-se ainda mais surpreendente. Nos EUA, por exemplo, 80% do vinho vem de menos de 10 castas de uvas.
Se os vinhos portugueses são tão versáteis é mesmo devido a uma combinação de terroirs diferenciados ao longo do mapa, em combinação com esta incrível gama de castas.
Abaixo listamos-lhe algumas das castas nativas mais populares em Portugal.
Castas portuguesas tintas
Alfrocheiro Preto
A casta mais utilizada na região do Dão, conhecida pela sua cor profunda.
Alicante Bouschet
Um cruzamento entre Petit Bouschet e Grenache, maioritariamente cultivada no Alentejo.
Aragonês
Vastamente utilizada para vinhos de mesa nas regiões do Alentejo e também no Dão e Douro, onde é conhecida como Tinta Roriz (e em Espanha como Tempranillo).
Baga
Embora também utilizada no Alentejo e Ribatejo, esta casta é a mais destacada na região da Bairrada, onde é rainha.
Bastardo
Uma uva de maturação precoce amplamente utilizada nas regiões do Douro e Dão.
Moscatel Galego Roxo
Utilizado na Península de Setúbal para a produção de vinho fortificado com o mesmo nome.
Tinta Barroca
Uma das mais antigas castas a ser cultivada no Douro, é utilizada como uma das uvas incluídas nos lotes da maioria dos vinhos do Porto.
Tinta Caiada
Muito utilizada no Alentejo, na produção de vinhos a ser bebidos enquanto ainda jovens.
Tinta Negra
A principal uva cultivada na ilha da Madeira, usada para o popular vinho fortificado da Madeira e, mais recentemente, também para vinhos de mesa por uma nova geração de produtores.
Touriga Franca
Também conhecida como Touriga Francesca, é responsável por mais de 20% de todas as plantações do Douro.
Touriga Nacional
Uma das castas estrela de Portugal, se não a, é uma das principais variedades de uva cultivadas no Dão e no Vale do Douro, mas usada e considerada nobre a nível nacional.
Castas portuguesas brancas
Antão Vaz
Uva ácida e cítrica cultivada no Alentejo.
Alvarinho
Cultivada e utilizada tradicionalmente no norte de Portugal para a produção de Vinho Verde.
Arinto
Tmbém referido como Arinto de Bucelas, visto que é maioritariamente cultivado nesta região de Lisboa, para ser utilizado na produção de vinhos brancos secos frutados.
Códega
Às vezes também chamada de Roupeiro, é uma casta milenar popular para a produção de vinhos de baixa acidez.
Encruzado
Utilizado principalmente na região do Dão para a produção de vinhos que tendem a envelhecer bem.
Fernão Pires
Cnhecida como Maria Gomez na Bairrada, esta casta aromática faz lembrar a Moscatel.
Loureiro
Utilizado para a produção de Vinho Verde, originário do Vale do Lima.
Malvasia Fina
Amplamente cultivada em Portugal, esta uva aromática é utilizada para diferentes tipos de vinho, incluindo o vinho do Porto.
Moscatel de Setúbal
Cultivado há muito tempo, desde a época do Império Romano na Península Ibérica, há mais de 2.000 anos.
Sercial
A uva branca mais popular utilizada na Madeira para a produção de vinho generoso.
Trajadura
Utilizado para vinhos verdes com baixa acidez e alto teor alcoólico.
Verdelho
Uma casta nobre cultivada principalmente na ilha da Madeira.
Enquanto em muitas partes do mundo os vinhos mais apreciados são monovarietais, ou seja, vinhos elaborados com apenas um tipo de uva, em Portugal as práticas vitivinícolas mais comuns centram-se nos vinhos com blends, ou seja, vinhos elaborados com uma combinação de pelo menos duas uvas diferentes, mas geralmente até mais do que isso.
Os produtores de vinho portugueses têm vindo a aperfeiçoar a arte de misturar vinhos durante séculos, acreditando que as maiores qualidades do vinho português são de facto melhor expressas quando em combinação, em vez de através da utilização única de uma determinada casta de uva. Se com mais de 250 uvas nativas já era fácil imaginar que há muitas oportunidades de provar vinhos diferentes, com técnicas de mistura as coisas tornam-se ainda mais interessantes e virtualmente sem fim!
Qualidade e rotulagem do vinho português
Antes de começarmos a explorar as 13 diferentes regiões vinícolas portuguesas, gostaríamos de dar uma rápida vista de olhos a como o vinho engarrafado é categorizado em Portugal. De acordo com a qualidade, o vinho português é classificado em 3 categorias:
DOC – a Denominação de Origem Controlada é sinónimo de vinhos de elevada qualidade produzidos numa determinada região, de acordo com as regras de cultivo e produção vinícola estipuladas pelas autoridades vitivinícolas daquela região. Existem 31 regiões DOC em Portugal.
Vinho Regional ou IGP – os vinhos com casta e loteamentos que não chegaram à classe DOC são agrupados na categoria de vinhos regionais. Mas só porque estes não são tão controlados, isso não significa que deva necessariamente esperar menos qualidade.
Vinho – é a rotulagem mais básica para o vinho em Portugal, indicativo de vinhos de mesa.
Regiões vinícolas portuguesas
De norte a sul, e incluindo os arquipélagos atlânticos dos Açores e da Madeira, Portugal conta com 13 regiões vinícolas diferentes.
Vinho Verde
A região norte do Minho é a origem do vinho preferido de Portugal durante o verão. Embora o seu nome diga respeito à cor verde, o Vinho Verde pode ser branco, tinto ou rosé, e representa um vinho ácido e ligeiramente gaseificado produzido na região que leva o mesmo nome. Os vinhos produzidos na região dos Vinhos Verdes têm uma personalidade proveniente do Atlântico vizinho, assim como das chuvas abundantes e das baixas temperaturas pelas quais esta parte de Portugal é conhecida.
Trás-os-Montes
Este território do interior de Portugal é vizinho da região costeira do Minho. Nesta árida e montanhosa zona de Portugal, existem três sub-regiões vitivinícolas: Chaves, Valpaços e Planalto Mirandês. Mesmo em Portugal esta é ainda uma das regiões vinícolas menos exploradas do país, mas produz muitos vinhos interessantes que merecem ser explorados.
Douro
Graças à popularidade mundial do vinho do Porto, o Douro é a região vinícola mais conhecida de Portugal. Esta não é apenas uma das regiões vitivinícolas mais antigas do mundo, como é também uma das mais antigas regiões vinícolas protegidas do mundo, tendo ganho esse estatuto no século 17. Desde 2001, o Douro está também protegido pela UNESCO como Património Mundial. Distinções à parte, o rio Douro corre o seu curso desde Espanha em direção ao Atlântico, e as margens dos seus 100km em Portugal albergam algumas das vinhas mais frutíferas do país. O Douro é o berço do vinho do Porto, mas há muito mais para explorar por estes lados! Explore os tintos e os brancos desta região, e mesmo outros vinhos fortificados como o Moscatel, que nesta região é conhecido por Favaios.
Távora e Varosa
As condições de solo peculiares e o clima agreste desta pequena região tornam-na única e especial para a produção de vinho. Os terrenos são notoriamente secos, maioritariamente graníticos e calcários, e associados ao clima temperado seco criam as condições para a produção de vinhos com aromas intensos e acidez natural, que tendem a envelhecer bem com o tempo. Távora e Varosa é mais conhecida pela produção de vinhos espumantes, incluindo o primeiro vinho espumante DOC de Portugal que ganhou esse estatuto em 1989.
Dão
Se gosta de vinhos bem estruturados e sabidamente envelhecidos, convidamo-lo a provar vinhos do Dão. Aqui, as vinhas são plantadas em terrenos íngremes em altitudes elevadas. Os vinhos do Dão são conhecidos pelo seu carácter robusto, com taninos fortes. Os vinhos do Dão mais populares são de longe os tintos produzidos com a casta Touriga Nacional, embora a região também tenha brancos e rosés incríveis que seria um erro ignorar.
Bairrada
Esta região da província da Beira Litoral em Portugal é conhecida pela utilização extensiva da casta de uva tinta Baga. Com esta e outras uvas, a Bairrada produz vinhos ricos com cor tinta profunda e notas de amora. A humidade e as temperaturas costeiras amenas desta região auxiliam no crescimento das uvas para a elaboração de vinhos com baixo teor alcoólico e alta acidez.
Beira Interior
Esta região vinícola em ascensão está lentamente, mas de forma consistente, a tornar-se conhecida no mundo dos vinhos portugueses. Os vinhos espumantes desta região são notáveis, mas há mais do que isso para provar por aqui. Enquanto as castas autóctones são as mais destacadas na Beira Interior, a região também é conhecida por criar blends notáveis de variedades locais com castas internacionalmente populares como Cabernet Sauvignon, Merlot, Chardonnay, Syrah e Riesling.
Lisboa
A região de Lisboa é conhecida por produzir vinhos a preços acessíveis e com diversos perfis. Fique de olho nos tintos profundos de Alenquer, nos brancos de Bucelas que envelhecem lindamente, nos tintos da Arruda bem estruturados ou nos refrescantes brancos de baixo teor alcoólico de Torres Vedras, Óbidos e da Lourinhã. O vinho branco encorpado e ligeiramente salino de Colares, produzido com uvas Malvasia Fina cultivadas nas falésias da praia, é um achado raro – por isso se se deparar com este vinho nas suas viagens por Lisboa, já sabe o que fazer!
Tejo
Manter vinhas nesta região semi-árida à volta do rio Tejo, perto de Lisboa, nem sempre é uma tarefa fácil. A região vinícola do Tejo mudou de designação, passando de Ribatejo para Tejo em 2009, e inclui a área da província do Ribatejo, para os lados do interior de Lisboa. Existe uma vasta gama de uvas a ser cultivadas nesta região. Os vinhos nem sempre são destacados como os mais exclusivos de Portugal, mas tendem a ter uma boa relação qualidade/preço e vale certamente a pena explorá-los, sobretudo por quem se interessa em compreender a variedade de vinhos que existe em Portugal.
Península de Setúbal
Agrupando as Denominações de Origem (DOC) Palmela e Setúbal, os vinhos regionais da Península de Setúbal são bastante marcantes no panorama vitivinícola português. Esta região vinícola portuguesa é particularmente significativa pela produção dos vinhos doces Moscatel e Moscatel Roxo. Palmela e Setúbal têm uma variedade de vinhas e caves abertas ao público onde se pode ficar a saber mais sobre o processo de produção de vinho e deliciar-se com uma prova. Se gostaria de visitar algumas das melhores adegas perto de Lisboa, fale connosco.
Alentejo
O Alentejo representa um terço do mapa de Portugal e é a origem de grande parte da comida e do vinho consumidos no nosso país. Se sair para ir beber um copo de vinho por Lisboa e perguntar pela recomendação de quem lhe estiver a servir, é provável que acabe a beber vinho do Alentejo. As temperaturas e os solos do Alentejo variam, do litoral ao interior, do temperado ao intensamente quente, e assim variam também os perfis dos vinhos produzidos nesta região. O Alentejo é uma região vinícola demarcada desde 1988 e possui 8 sub-regiões diferentes: Reguengos, Borba, Redondo, Vidigueira, Évora, Granja-Amareleja, Portalegre e Moura. As castas tintas mais relevantes nesta região são a Alicante Bouschet, Aragonez e Trincadeira, enquanto as castas brancas que se destacam são a Antão Vaz e Arinto. Tanta diversidade resulta numa coisa boa: muito vinho para ser degustado e explorado!
Algarve
A meca do sol e da praia em Portugal também é o lugar de origem de alguns vinhos, especialmente tintos produzidos com uvas como Alicante Bouschet, Aragonês e Syrah. Devido ao clima intensamente quente, os vinhos produzidos nesta zona são melhor bebidos um pouco jovens e não envelhecem particularmente bem. No Algarve pode contar com vinhos aromáticos e suaves com notas ligeiramente doces e fumadas.
Madeira
Depois do vinho do Porto, o vinho da Madeira não é apenas o vinho fortificado mais famoso de Portugal, é também um dos vinhos generosos mais apreciados em todo o mundo. Devido à localização remota desta ilha e à dificuldade de cultivo em solos íngremes, a produção de vinhos na Madeira tem um preço bastante elevado, provavelmente contribuindo ainda mais para a sua popularidade e desejabilidade. Recorde-se que o Vinho Fortificado da Madeira não é o único tipo de vinho produzido na Madeira. Enquanto as castas fortificadas são comercializadas como Madeira DOC, outros vinhos regionais também são produzidos e comercializados com o selo Terras Madeirenses.
Açores
Situados no oceano Atlântico, a mais de 1500km de Portugal continental, os Açores são um arquipélago português com nove ilhas, das quais três cultivam uvas para vinificação. As ilhas da Terceira, do Pico e da Graciosa são responsáveis por uma das regiões vinícolas menos exploradas e, por consequência, mais empolgantes de Portugal. Os vinhos brancos do Pico, ilha vulcânica onde se situa o ponto mais alto de Portugal, são particularmente apreciados pelos enólogos e amantes de vinho. O solo vulcânico, rodeado pela salinidade do oceano, contribui para vinhos que são ácidos mas ainda assim doces, com um ligeiro toque salgado e levemente fumado. São lugares e vinhos sem rival!
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