As 3 sandes de carne preferidas dos portugueses: bifana, prego e leitão
No mundo da gastronomia, o humilde sanduíche evoluiu das suas origens simples para se tornar numa tela de criatividade culinária e expressão cultural. Em praticamente todas as culturas do mundo, as sandes têm interpretações únicas. Aqui em Portugal, não são meros snacks rápidos, mas reflexos das nossas tradições ancestrais na cozinha.
Imagem de capa cortesia de whatforbreakfast
Em Portugal, a tradição de comer sandes vai muito além da refeição convencional do meio-dia. Temos uma abordagem versátil aos sanduíches, tornando-os uma parte integral da nossa dieta diária, da manhã à noite. Este costume está enraizado nos conceitos de pequeno almoço e lanche (a meio da tarde ou a meio da manhã), que são elementos essenciais dos hábitos alimentares portugueses. O pequeno almoço muitas vezes integra sanduíches mais simples. Estes são tipicamente leves e proporcionam um começo de dia relativamente ligeiro. Os clássicos incluem a sandes mista (com queijo e fiambre), a sandes de queijo, a sandes de fiambre, sandes com outros enchidos da vasta gama de charcutaria portuguesa, bem como o tão simples mas sempre apreciado pão com manteiga. Estes sanduíches são muitas vezes acompanhados por um café, um elemento essencial do típico pequeno almoço português, que ajuda muitos de nós a enfrentar o dia de trabalho.
Imagem cortesia de A Padaria Portuguesa
O conceito de lanche é particularmente distintivo na cultura portuguesa. Refere-se aos snacks a meio da tarde e a meio da manhã, uma tradição que pontua a rotina diária e que de alguma forma pode ser comparada ao chá da tarde no Reino Unido, à fika na Suécia ou à merienda em Espanha. O lanche é desfrutado não só por crianças, mas também, muito frequentemente, por adultos. Não se trata apenas de sustento, mas também de tirar um momento para fazer uma pausa e desfrutar e, por que não, ter uma boa desculpa para mais um cafézinho que ajuda a continuar o dia. Na hora do lanche, as sandes de eleição são também relativamente simples, similares às escolhas do pequeno almoço, mas servem para enganar a fome entre as principais refeições do dia.
Contudo, à medida que avançamos para as refeições mais substanciais do dia, as sandes tendem a sofrer transformações fundamentais. Tornam-se mais robustas, repletas de sabores e texturas, convertendo-se numa refeição completa por si sós. É aqui que se destacam as sandes de carne, foco do nosso artigo. Estes sanduíches são servidos em cafés e pastelarias locais, em snack-bars e restaurantes, mas também são frequentemente encontrados em contextos de comida de rua, tornando-os uma escolha popular durante festivais, concertos e outras festas populares, como por exemplo as festas do Santo António durante junho em Lisboa (foto abaixo).
Imagem cortesia de Câmara Municipal de Lisboa
Comer uma sandes portuguesa de carne pode ser algo prático e delicioso. A seguir, exploramos as bifanas, os pregos e as sandes de leitão, que são, sem dúvida, as sandes mais icónicas de Portugal. As receitas podem ser de facto bastante simples, mas cada uma delas é um testemunho do amor de Portugal por comidas substanciosas e satisfatórias, e prová-las certamente representa uma experiência culinária que vale a pena vivenciar quando se está a viajar por Portugal.
Imagem cortesia de Cultuga
Bifana: a clássica sandes de porco portuguesa
A bifana, que se destaca tanto pelo seu sabor quanto pela sua simplicidade, é um testemunho da filosofia culinária portuguesa de fazer pratos extraordinários a partir de ingredientes comuns. No seu cerne, a bifana tem tudo a ver com a carne de porco, embora os turistas anglo-saxónicos às vezes erradamente pensem que tem a ver com bifes de vaca, dado que a palavra beef em Inglês se traduz como carne de vaca. Para fazer uma bifana suculenta, o bife de porco é tradicionalmente marinado numa mistura de vinho branco, colorau, alho e ervas aromáticas. Embora, em certos contextos, particularmente em festas ao ar livre durante as quais não é de todo fora do comum ver grelhadores nas ruas, as bifanas também possam traduzir-se em simples bife de porco grelhados, metidos pão.
Ao longo das décadas, esta sandes entranhou-se na vida diária dos portugueses, tornando-se numa refeição amada ou num lanche para comer entre as principais refeições. A verdadeira arte da bifana está no seu equilíbrio. A carne deve ser tenra, mas não excessivamente macia, com as bordas ligeiramente crocantes devido após uma fritura rápida, para que cada dentada tenha algum contraste de textura. A marinada, absorvida pela carne, vai carregada de aroma e um leve travo picante, que é frequentemente complementado ao beber uma cerveja bem gelada enquanto se come uma bifana. O pão, tipicamente um papo seco com miolo fofo mas com uma côdea algo crocante, é o veículo perfeito – suficientemente resistente para reter os sucos da carne, mas macio q.b. a cada dentada.
Existem variações da bifana, que têm principalmente a ver com a marinada. Alguns cozinheiros substituem o convencional vinho branco por cerveja, enquanto outros preferem adicionar um toque mais pronunciado de especiarias. Mas a essência geralmente permanece a mesma e traduz-se numa celebração da simplicidade e do sabor. Para realçar a sua bifana, os estabelecimentos geralmente fornecem mostarda e molho piri-piri picante para adicionar a gosto.
Estes são os melhores lugares para comer bifanas em Lisboa:
As Bifanas do Afonso
Outrora um favorito da classe trabalhadora lisboeta, agora recebe filas de moradores e turistas que ouviram que o Sr. Afonso serve de facto das melhores bifanas de Lisboa.
📍Rua da Madalena 146, 1100-340 Lisboa
O Solar da Madalena
As bifanas do Solar da Madalena podem bem ser ainda o segredo melhor guardado da Baixa que tem passado despercebido às modas, num lugar espaçoso e de atendimento acolhedor. Provavelmente as reais melhores bifanas de Lisboa – Fique a saber provando-as no nosso passeio Raízes de Lisboa – Gastronomia e Cultura.
📍Rua da Madalena 228, 1100-325 Lisboa
O Trevo
O restaurante onde Anthony Bourdain se deliciou com uma suculenta bifana quando veio a Portugal para filmar o episódio de No Reservations em Lisboa
📍Praça Luís de Camões 48, 1200-283 Lisboa
A Parreirinha do Chile
Este snack-bar na Praça do Chile é gerido pelo autodenominado “rei das bifanas” – o próprio rei irá preparar-lhe uma exemplar sandes de de porco à moda portuguesa
📍Praça do Chile 14A, 1000-098 Lisboa
Imagem cortesia de XtremeFoodies
Prego: the quintessential steak sandwich from Portugal
Se a bifana é uma ode à carne de porco, então o prego é uma homenagem à carne de vaca. O prego no pão representa um bife de vaca colocado entre duas camadas de pão, enquanto a palavra prego por si só, a menos que esteja listada num menu de sanduíches, normalmente refere-se a um bife servido num prato, com uma variedade de acompanhamentos, de forma semelhante a um bitoque, mas sem o ovo estrelado.
O encanto de um bom prego tem a ver com a sua simplicidade mas também capacidade de oferecer conforto enquanto se come. Tudo começa com uma fatia fina de carne de vaca, geralmente do lombo ou da alcatra. Este bife, marinado em alho (um ingrediente essencial na cozinha portuguesa típica), é grelhado ou frito em lume brando, frequentemente com azeite, embora não exclusivamente. O resultado é um bife suculento e rico em sabor. Esta substancial peça de carne é então colocada dentro de um pão fresco, tradicionalmente uma bolinha algo estaladiça, mas em interpretações mais contemporâneas desta sanduíche, pode também ser num bolo do caco, isto é, um pão fofo achatado típico do arquipélago português da Madeira, feito com farinha de trigo e batata-doce. Independentemente da escolha do pão, a sua textura é geralmente realçada com uma camada de mostarda ou manteiga de alho, tornando o pão ainda mais acolhedor para a carne a ser colocada nele. A combinação do bife quente e tenro com a crocância do pão cria um contraste delicioso, tanto em textura quanto em sabor, fazendo do prego uma sandes irresistível.
As origens desta sandes de bife de vaca remontam aos antigos talhos de Lisboa, onde a simplicidade na cozinha era muito valorizada. Nesses tempos, os talhantes grelhavam ou fritavam sobras de carne de vaca, servindo-as como uma refeição ou lanche simples, para maior conveniência, muitas vezes num pão. Esta solução prática para evitar o desperdício de carne deu origem a uma tradição culinária que rapidamente se espalhou por cafés e restaurantes em Portugal. A evolução do prego, de petisco rápido nos talhos a estatuto de uma das sandes nacionais favoritas, reflete a abordagem portuguesa à cozinha: transformar ingredientes humildes em algo sensacionalmente satisfatório.
Em Portugal, o prego ocupa um lugar único não apenas no mundo das sandes em si, mas também das tradições gastronómicas de modo geral. Curiosamente, muitas vezes é consumido como uma espécie de sobremesa, após uma refeição de mariscos. Esta prática pode parecer peculiar para os visitantes, mas está profundamente enraizada na cultura gastronómica portuguesa. Depois de desfrutar da leveza de uma mariscada, o prego oferece um final de refeição com uma boa quantidade de proteína e hidratos de carbono, não só equilibrando os sabores mas sobretudo deixando os comensais completamente saciados. É uma tradição que inicialmente pode surpreender, mas experimentá-la geralmente leva a uma compreensão de como esta combinação aparentemente incomum pode complementar maravilhosamente uma experiência gastronómica. Seja apreciado como uma refeição em si, como um petisco rápido num café local, ou como o final surpreendente de uma mariscada, o prego continua a ser um testemunho da herança culinária despretensiosa, mas não por isso menos deliciosa, de Portugal.
Estes são os melhores locais para comer um autêntico prego em Lisboa:
Rui dos Pregos
Um restaurante especializado em pregos, que abriu as suas portas há já mais de duas décadas
📍Doca de Santo Amaro, Rua da Junqueira 506/512, 1300-598 Lisboa
www.instagram.com/ruidospregos
Tico-Tico
Um restaurante simples mas que não deixa de ser um dos nossos favoritos no bairro de Alvalade
📍Av. Rio de Janeiro 19, 1700-330 Lisboa
Ramiro
Esta marisqueira super popular serve um dos melhores pregos de Lisboa, demonstrando assim o típico hábito de comer uma sandes de carne de vaca ao finalizar uma mariscada
📍Av. Alm. Reis 1 H, 1150-007 Lisboa
Photo by Dany in Bairrada Informação
Sandes de leitão: a sanduíche mais típica da Bairrada
As sandes de leitão são a conjunção da tradição e da indulgência no meio do pão. Antes de explorarmos a sanduíche em si, é essencial compreender a significância cultural do leitão em Portugal, especialmente na região da Bairrada. Conhecida pelos seus assados de leitão, a Bairrada tornou-se um local de peregrinação para entusiastas da gastronomia. Muitos portugueses viajam até esta zona no centro de Portugal, atraídos pela promessa de saborear este prato, destacado como uma das 7 Maravilhas da Gastronomia Portuguesa, e cujo processo de confecção é visto por muitos como uma arte.
Os leitões, jovens e ainda alimentados com leite, são temperados com uma mistura de especiarias locais, incluindo alho, pimenta e, por vezes, um toque de limão ou laranja. Mas a verdadeira magia acontece no processo de assar. Os leitões são assados inteiros em fornos a lenha, um método que confere um sabor e textura distintos à carne. O tipo de madeira usada é crucial, já que cada variedade confere um aroma único ao leitão, sendo que há quem prefira o fumado proveniente do carvalho ou do eucalipto para realçar o perfil de sabor. Este processo de assar resulta numa carne tenra, suculenta e ricamente aromatizada, contrastada por uma pele irresistivelmente crocante e dourada. Historicamente, em Portugal, o leitão era um prato reservado para ocasiões especiais, como casamentos e grandes encontros familiares, simbolizando celebração e abundância.
À medida que a fama do leitão da Bairrada se espalhou, esta iguaria encontrou o seu lugar também em Lisboa. Em algum momento durante este processo, os leitões assados passaram de um festim servido no prato para um formato mais acessível, em formato de sandes de leitão. Esta adaptação de servir a carne assada num pão macio, mas resistente, tornou o prato mais acessível para o consumidor comum, permitindo que hoje em dia todos degustem esta tradição quer seja no centro do país ou em qualquer outro lugar do mapa nacional, incluindo a nossa capital.
É importante salientar que, apesar da sua disponibilidade como sanduíche, as sandes de leitão não são tão comuns ou acessíveis como os pregos ou as bifanas. A sua preparação é mais trabalhosa e os ingredientes são mais caros, tornando-as uma escolha menos frequente, embora igualmente adorada, se não mais, pelos habitantes locais.
Sejam desfrutadas no coração da Bairrada ou nas movimentadas ruas de Lisboa, as sandes de leitão continuam a ser um símbolo do orgulho gastronómico português. Embora numa versão mais moderna, a forma de comer leitão em sanduíche (o que não significa que os leitões assados não continuem a ser desfrutados por si só, no prato) traz consigo a essência do tradicional leitão assado, oferecendo um sabor nostálgico que obviamente mexe com os locais, mas também costuma ser muito apreciado pelos visitantes, quando participam desta deliciosa tradição.
Onde comer uma boa sandes de leitão em Lisboa:
Nova Pombalina
Uma meca das sandes portuguesas em Lisboa
📍Rua do Comércio 2, 1100-321 Lisboa
www.facebook.com/anovapombalina
Afonso dos Leitões
Um dos melhores locais para deliciar-se com leitão assado em Lisboa, em formato de sandes ou no prato
📍Rua da Junqueira 486, 1300-598 Lisboa
Eliseu dos Leitões
Para comer uma boa sandes de leitão longe das multidões de turistas, no bairro de Benfica
📍Condomínio Parque Colombo, Rua Álvaro Benamor 2B, 1600-894 Lisboa
As bifanas, os pregos e as sandes de leitão são mais do que simples sanduíches. São ícones culinários que, trinca a trinca, o podem aproximar da essência da cultura gastronómica portuguesa. Estes são bons exemplos de comidas práticas e democráticas partilhadas pela maioria dos portugueses. Geralmente são acessíveis, principalmente as bifanas e os pregos, e como são muito apreciadas pelas massas, acabam por dizer muito sobre o poder unificador da comida. Se gosta de sandes, com recheio de carne e muitos outros ingredientes, não perca as nossas recomendações de onde comer as melhores sandes em Lisboa.
Quando viajar a Lisboa, recomendamos-lhe vivamente que experimente as mais representativas sandes de carne portuguesas, esperando que, ao fazê-lo, possa saborear um pouco da alma de Portugal. Para mais recomendações de comida local, siga-nos no Instagram, onde partilhamos conteúdo regularmente, e inscreva-se na nossa newsletter, para receber dicas selecionadas por e-mail todos os meses.
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